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Como sabemos, o campismo no Brasil nasceu na década de 1950 e teve seu auge nos anos de 1970 e 1980. Havendo um grande declínio a partir dos anos 1990, seguido um grande ostracismo durante a década de 2000, viu seu crescimento retomado a partir de 2010. Hoje na década de 2020 vemos dados bastante positivos não só pelo cenário mais atual, quanto diante da própria Pandemia.

O CARAVANISMO NÃO “ACABOU” POR CAUSA DO CÓDIGO DE TRÂNSITO de 1997: O que foi na realidade a “gota d’água” para um restante de campistas que perdurava na modalidade “caravanismo” no final dos anos 1990, é tido erroneamente como o “grande fator” do declínio do campismo no país. De fato temos este quesito no final da linha do tempo e para este assunto criaremos um artigo específico. Na importância do entendimento dos reais motivos do declínio da modalidade brasileira, vemos diversos fatores mais adiante.

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QUAIS AS REAIS CAUSAS DO DECLÍNIO? Diversos foram os fatores, tanto relativos ao progresso quanto a erros de quem atuava no setor. Mais do que a importância de os listarmos, é a necessidade de entendermos para não cometermos os mesmos erros no futuro.

PROGRESSO DOS EQUIPAMENTOS DE HOSPEDAGEM: O Brasil dos anos 1950, 1960 e início dos 1970 era carente de hotéis e pousadas. Apenas os mais ricos poderiam frequentar ou poucos hotéis que alguns destinos turísticos ofereciam. Principalmente uma numerosa massa de profissionais emergentes às classes médias e que também gozavam das férias e folgas proporcionadas pelas leis trabalhistas encontravam na modalidade “CAMPING” a liberdade e opção de “turistar” e curtir a natureza. Com o ar dos anos, surgiram pousadas mais íveis e em maior número, os hostels, aumentou-se as casas de veraneio ou de campo, ampliando assim a diversidade de opções. O Campismo que não se reinventou e nem progrediu, acabou ficando para trás, mesmo com o aumento do número total de população e turistas.

CAMPINGS SE ACOMODARAM: Enquanto o tempo ava e os equipamentos turísticos iam avançando, os estabelecimentos de camping iam “muito bem, obrigado”. A enorme procura não motivava modernizações e principalmente os campings iam se acomodando no público “mensalista” que além de lhe trazer ganhos certos e frequentes, davam menor trabalho no receptivo do estabelecimento. “Afinal, muito melhor o meu cliente pagando ali todo mês, do que aquele grupinho de amigos que só ariam 3 dias no camping, perguntando, exigindo e demandando atenção”. Pois não se pensava que ali estavam os turistas que “giravam” o setor e que carregavam outros adeptos e também criavam novos descendentes campistas. Já os mensalistas ali, já construíam verdadeiros chalés em volta dos trailers, quando não os trocavam de uma vez, criando raízes. Eles já não mais viajavam conhecendo novos lugares e disseminando culturas, seus filhos já nem conheceriam o que é acampar numa barraca e seus amigos e familiares quando convidados, apenas saberiam o que era “dormir na casa alheia”. Para piorar, aqueles clientes fixos desenvolveriam os verdadeiros condomínios nas melhores e mais nobres áreas do camping, diminuindo ainda mais os atrativos daquele local. Com menos campistas sendo atraídos, aumentava ainda mais a sensação de que o caminho certo era exatamente o mensalista. O resultado disso foi um número enorme de campings, principalmente ao redor de São Paulo e em toda a faixa litorânea brasileira repleta de trailers “roda-quadrada”, totalmente “construídos” e engessados junto a um público que já começava a se juntar para exigir melhorias. Concomitante a isso,  os barraquistas e trailistas em trânsito se viam sem espaço. Sem a opção de acampar, não restava outro caminho a não ser procurar outra modalidade de hospedagem que os acolhessem.

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA: Fato que ainda ocorre até os dias de hoje, é praticamente inevitável com a valorização das áreas mais nobres: Beiras de praias, centros de cidades, áreas amplas e com riquezas naturais. Os velhos campings que ocupavam os mais nobres terrenos agora são vendidos para a construção de empreendimentos muito mais lucrativos. Existem soluções, mas muito complicadas que precisariam englobar tombamentos, consideração de áreas de preservação, baixa ocupação ou com necessidade de compensação de leitos.

SHOW ROOM: Os anos 1980 foram marcados pela imensa gama de oferta de equipamentos de camping. O mercado aquecido no setor atraía grandes redes de varejo a comercializarem os equipamentos, mesmo que grandes e pesados da época. Víamos mega lojas como Mappin, Sears, Mesbla, Jumbo Eletro e até mesmo lojas de Camping e Pesca com grandes áreas de show-room que expunham barracas, mesas, cadeiras, fogareiros e utensílios que atraíam olhares até mesmo de quem não era adepto da modalidade. Uma grande prova do efeito “show-room” na atualidade foi com a implantação da rede Decathlon pelo país nos anos de 2010. Vinte anos após à estagnação, o setor de camping e suas mais modernas, compactas e práticas novidades tecnológicas faz com que as pessoas pensem “Assim até eu acampo!”.

FACILIDADES FINANCEIRAS: Para quem ama acampar sabe que a opção não se dá por economia, mas sim por afeição. Viajar levando o conforto de sua própria casa transcende a rasa relação de “caro X barato”. O problema é que quem não conhece a modalidade, tende a concluir que “se for viável ficar em hotel, será muito mais confortável e seguro”. Aí é que entram os fatores crescentes a partir da década de 1990, quando juntamente à disseminação dos demais meios de hospedagem mais íveis, também se contava com agências de viagens, parcelamentos das férias, agens aéreas mais popularizadas e até mesmo uma maior agilidade de tráfego nas rodovias e meios de transporte próprios.

CRISES DO PETRÓLEO e PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS: Até mesmo as crises dos anos 1970 causavam grandes prejuízos aos campistas, principalmente àqueles que rebocavam trailers com seus dodges, landaus e outros “beberrões” de plantão. Desde o final do século ado até os dias de hoje, o custo inicial projetado de combustível + pedágio já frustra muitos planos de viagens de férias de carro.

PLANOS ECONÔMICOS: Quem viveu nos anos 1980 sabe o que significaram as mudanças econômicas dos diversos planos econômicos tanto para um consumidor quanto para um comerciante ou industrial. Talvez em termos de fabricação e equipamentos, este tenha sido um dos quesitos que levaram à indústria minguar tanto. Inflação e incerteza levaram ao público não apostar em equipamentos e às fábricas não aguentarem manter funcionários e estrutura.

MUDANÇA NO CÓDIGO BRASILEIRO DE TRÂNSITO: Chegamos ao final da linha do tempo, onde os poucos trailistas que ainda perduravam no cenário móvel e ainda motorhomeiros que se viram na necessidade de aumentar categorias de habilitação para ter o direito de continuar rodando pararam de acampar, levando a mais campings perderem receitas e se modernizarem para o campismo de barraca que perdeu ainda mais espaço. Apesar deste não ter sido o fator preponderante e erroneamente sendo taxado de “causador”, certamente teve sua parcela no processo de declínio do campismo do Brasil. A Karmann Ghia, uma das duas maiores fábricas de trailers do Brasil já havia parado sua produção em 1995, dois anos antes da mudança da lei, indicando que o mercado já havia minguado.

OS TRAILERS: É fato que com a mudança no código os trailers praticamente saíram de cena no país, sendo utilizado em trânsito por uma minoria cativa. A maior parte dos equipamentos existentes ficaram parados nos campings ou estacionados nos terrenos, alguns se acabando e outros só sendo recolocados na estrada muitos anos depois. É fato também que somente após a mudança da lei da habilitação em 2011 é que os trailers ganharam o mercado novamente, provando que a legislação interferia demais na modalidade. Mas o que precisamos entender também é que mesmo antes da lei em 1997, o trailer já era amplamente utilizado como “casa fixa” de campo ou praia. Ainda hoje vemos trailers que foram comprados na concessionária e entregues em campings para lá estarem até hoje, sem jamais o proprietário ter cogitado em rebocá-lo. Já no final dos anos 1980 o trailer já era entendido como uma habitação rápida e versátil, mas bem longe do que ele realmente fora projetado: Rodar…

A RETOMADA: A partir dos anos 2010, para a alegria da modalidade, pudemos ver a retomada do campismo no Brasil. A procura da nova geração mais jovem a um estilo mais livre e, as vezes até mais econômico, aliado a novas tecnologias e equipamentos mais leves e práticos, coadunaram para a busca pela natureza e atividades de turismo outdoor. Defendemos também a grande importância do “show-room” na prospecção de uma atividade, quando tanto nos anos 1980 quando grandes lojas do varejo dedicavam grandes áreas de exposição de barracas e órios que demonstravam aos leigos que acampar poderia reservar grandes momentos e experiências sem dificuldades. Nos anos 2010 a chegada da rede Decathlon trouxe novamente este cenário que certamente ajudou muito nesta prospecção.

PORQUE NÃO VEMOS OS MESMOS ÍNDICES DOS ANOS 70 HOJE? Na realidade, isto depende muito da maneira como se encara o gráfico. Se formos falar de números absolutos, poderíamos ter um gráfico maior do que o auge dos anos 1970 considerando o número de campistas e indivíduos. Porém, a população cresceu muito nas últimas décadas. Já se formos considerar os números comparativos às demais modalidades de hospedagem e turismo, ficará difícil de atingirmos os índices dos anos dourados do campismo brasileiro.

POTENCIAL BRASILEIRO: É fato que as culturas da Europa e América do Norte são enormemente maiores do que a nossa, porém o potencial natural deles é muito menor do que a do Brasil. Vivemos em um país tropical, de dimensões continentais, com milhares de quilômetros de litoral, com diversos climas, culturas, gastronomias e enorme quantidade de áreas de preservação ambiental e destinos turísticos. O que poderia se tornar o maior cenário do caravanismo mundial, também tendo potencial e índice de aproveitamento muito maior no campismo nômade (barraca), poderia também se tornar um dos três maiores pilares econômicos do país no guarda-chuva do turismo. É neste objetivo que o MaCamp existe e atua.

DEVEMOS APRENDER COM OS ERROS DO ADO: Nos vemos neste momento em uma crescente. Questões favoráveis trazem adeptos, interessados e curiosos. Entender que todo o declínio que levou mais de uma década antes do ocorrido, não foi culpa daquele último fator já é um grande começo. Precisamos entender a importância de se atualizar e modernizar. Entender a importância da rotatividade e da renovação do público. Da modernização dos serviços incluindo o camping em ideias de pacotes, descontos progressivos, fidelização e etc. Questões de associativismo e representatividade também se fazem muito importantes, unindo possíveis concorrentes ou empresas que a princípio não se conversam tanto em ações mútuas para o mercado específico. Valorizar quem fomenta, reciclar os conhecimentos do universo campista e participar de eventos do setor é fundamental. Entender que trazer tecnologia para o camping significa crescimento, assim como os cuidados nas dependências internas e a implantação (mesmo que paulatina) de atrativos e equipamentos internos só fará crescer o seu negócio. A indústria também precisa seguir esta relação junto à concorrência. O público também precisa fazer sua parte, entendendo que acampar não é se transformar em um ser autônomo e que o destino turístico só será viável e receptivo se houver uma troca. É preciso saber o que cobrar do governo e autoridades, olhando um cenário mais amplo. De todas as partes, entender que “acampar é fazer turismo levando seu próprio abrigo” e que discriminar ou não demonstrar empatia com os demais equipamentos (barracas, trailers, motor homes e etc.) é muito prejudicial.

O MaCamp: Não podemos deixar a modéstia excluir a enorme importância na busca pelo fomento e resgate de uma modalidade. A paixão pelo campismo e caravanismo fez com que o MaCamp fosse a única entidade digital da década de 2000 a se estruturar , manter e alimentar o mercado com conteúdos e guia de campings que teve um papel importantíssimo não só para os campistas apaixonados e cativos, quanto aos interessados na modalidade. Naquela época, os primeiros sites e guias digitais foram abandonados e as antigas revistas e guias impressos se extinguiram. Até mesmo quando as associações institucionais e representativas do setor pararam, restando apenas os movimentos e grupos de usuários, o MaCamp continuou firme na construção do que é hoje o maior portal de conteúdo e fomento da modalidade e do maios guia de campings e pontos de apoio do país com versões WEB e APP mobile. Que venha o futuro…

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Marcos Pivari
CEO e Editor do MaCamp | Campista de alma de nascimento e fomentador da prática e da filosofia. Arquiteto por formação e pesquisador do campismo brasileiro por paixão. Jornalista por função e registro, é fundador do Portal MaCamp Campismo e sonha em ajudar a desenvolver no país a prática de camping nômade e de caravanismo explorando com consciência o incrível POTENCIAL natural e climático brasileiro. "O campismo naturaliza o ser humano e ajuda a integrá-lo com a natureza."